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A voz feminina nas Ciências Exatas e a quebra de paradigmas

A cultura machista, que excluiu a mulher de seus direitos, hoje pode ser superada. A ideia é incentivar o aumento desse público em áreas antes consideradas inusitadas

Azul é de menino e rosa é para as meninas. Nascemos e somos criados destinados a paletas de cores, comportamentos, vestimentas e pensamentos definidos pelo gênero sexual. Em casa e nas escolas, meninas são ensinadas a serem educadas e recatadas, o que muitas vezes as direcionam às áreas do “cuidar”, como saúde e educação. Historicamente consideradas como “o sexo frágil”, a caminhada das mulheres em busca do empoderamento feminino e igualdade entre sexos vêm se tornando cada vez mais discutida. Graças às lutas sociais, hoje já foram conquistados certo espaço e voz ao público que, por muito tempo, viveu às sombras dos homens que tinham sua “propriedade”.

Mirah Alves é a única mulher à concluir a formação em Matemárica Industrial da sua turma

Para Mirah Alves, 24, formada em Matemática Industrial e aluna de mestrado da Universidade Federal do Ceará (UFC), no curso superior, ainda é perceptível a diferença de tratamento com as mulheres. “É realmente bem difícil porque, quando eu estava nas disciplinas, os professores tratavam você diferente, tinham um pouco de pena. Às vezes, quando por exemplo eu fazia um trabalho de programação, eles falavam “Foi você mesmo que fez isso? Tem certeza? ” e eu tinha que dizer que sim”, relembra ela.


A Secretaria Especial de Políticas para Mulheres (SEPM), órgão vinculado à Presidência da República, aponta que há um equilíbrio de participação de meninas na Matemática nas séries base. Com o passar do tempo, esse cenário muda, dando destaque aos garotos e há uma elevada queda no número de representantes do sexo feminino em competições nacionais. O motivo é que elas não se sentem incentivadas nas disciplinas que têm como base cálculos, que seriam predominantemente masculinas.

 

“Os professores tratam você diferente, têm um pouco de pena”

Mirah Alves, 24

 

Disfarçadas como práticas comuns do cotidiano, muitas vezes atitudes como filas, que dividem os meninos e as garotas, destacam a diferença entre homens e mulheres na visão social e profissional. Mulheres ainda são minoria em cargos elevados e nas áreas consideradas masculinas, apesar do crescimento, segundo o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Os dados mostram que o ingresso do público feminino nas Exatas mais do que dobrou de 2011 a 2016.


“Se a gente pensar na licenciatura em Matemática, se vê muito mais professoras atuando. Quando eu comecei a estagiar na área, em 1998, todos os professores eram homens e só a coordenadora era mulher, além de mim, estagiária. Hoje você vê muito mais meninas nos cursos de Matemática e Exatas estagiando, do que naquela época. ” explica a engenheira civil e professora do curso de Matemática da Universidade Estadual do Ceará (UECE), Ana Cláudia Mendonça, 50.

Ana Cláudia é formada em Engenharia Civil, migrou para a licenciatura em Matemática em 1997

Além de essa linha de estudo ser pouco explorada por garotas na hora de decidir que carreira seguir, o problema é mantê-las na escolha. A maioria abandona o curso no começo logo da graduação. Mirah e Ana Cláudia são exceções à regra. As duas assistiram suas colegas trancando a faculdade, mas se mantiveram na jornada e foram as duas únicas mulheres da sua turma a concluir o ensino superior em suas áreas. “Eu gostava justamente dessa parte que as meninas não iam gostar. Pontes, bueiros, barragens... O que não era comum. Sempre estudei só com homens. Em sala de aula, era eu, mais seis alunos e ainda o professor.” afirma Ana Cláudia.


Mesmo com o aumento no número de mulheres nesses cursos, a dificuldade também existe no mercado, pois além de conviver com preconceitos de que aquele não é lugar de mulher, existe uma luta diária para provar a capacidade feminina de executar as atividades rotineiras no trabalho. “Acaba que as pessoas sempre ficam querendo ensinar você. Acham que você não sabe muito. Ficam tentando falar muito explicado como fazer certas coisas na empresa. Eles têm um pouco mais de cuidado na hora de falar, é como se não tivessem falando de igual para igual, como com outro homem”, acrescenta Mirah, que trabalhou um ano como Coordenadora de Tecnologia da Informação.


A esperança é que essas conquistas aumentem. Que aos poucos a mulher seja reconhecida e que alcance o patamar de igualdade no espaço das Ciências Exatas. Débora Barroso, 21, estudante de Química da UECE, diz que não sente tanta diferença, já que em seu curso a grande maioria do corpo acadêmico é feminino. “Nunca senti diferença, mas acho que é pelo fato do meu curso ter a coordenação inteira com mulheres. Então, as mesmas chances que eles têm, a gente também tem. Estudamos as mesmas coisas e passamos pelas mesmas coisas. Mas infelizmente eu sei que isso ainda existe em algumas empresas”, explica.

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